quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Poemaroto

O re


Repetir é uma chance
De fazer de outra forma
Desfazer a outra forma
que é feita de relance

repito

Repeti, tive uma chance
De gostar à antiga forma
Desgostar da antiga forma
Mas relutei a própria sorte

Repararei no conteúdo das formas
Refarei o mais perfeito
Repitirei a minha força
Errarei sempre que puder... acertar

composição:cada parágrafo é contruído com uma conjugação verbal ( presente, passado e futuro). O prefixo "re" é REpetido dá a idéia de algo novo, uma nova chance,onde é possível aprender com o próprio erro e na busca da perfeição é importante errar!
forma é repetida mas com valor diferente, no início significa maneira, no último parágrafo não. A escolha da ordem verbal é a seguinte: no presente é a constatação, baseada nos fatos ocorridos( 2 paragrafos)e por último os planos(futuro)
de fazer, desfazer / de gostar, desgostar. esse conjunto de palavras faz com que se reparena forma como se olha pras palavras. semelhanças no som, e sentido oposto.

sábado, 17 de janeiro de 2009

Ao mestre

Nesse início de ano tenho dedicado minhas leituras para a literatura de Franz Kafka. E é incrível como, logo de imediato, me identifiquei com "o mundo kafquiano". O homem que é surpreendido pelo desconhecido, ilógico. Os textos do autor "tcheco-alemão" refletem a indignação diante da simples situação de existir, enquanto cidadão, dentro de uma sociedade controvérsa e cruel. E como não se identificar com isso? Hoje em dia ainda vivemos sob a influência de algo que não é claro. Aliás nada é claro. Não sabemos de nada, ninguém sabe de nada e finge saber de tudo. A política é um exemplo disso( assim como é abordada na literatura de Kafka): não temos acesso ao poder e quem tem esse poder é inalcançavel, imcompreensível. Os poderosos que não lutam pelos mais fracos, as minorias que se contentam com o pouco que têm, a classe média só olha para o próprio umbigo e a vida continua, isso quando continua... porque muitas pessoas nem sabe-se o que é a vida, e partir disso é discutível se elas vivem ou não. Será que viver é apenas estar vivo?Ao falar isso não tiro do fator"estar vivo" seu valor , mas deve-se pensar que viver é algo além disso. E essa vida, no sentido mais amplo que pode ser concebido, é privada! Quanta gente vive e não vive, alguns preferem a expressão"existência" para diferenciar essa situação. Eu utilizo "existir" como algo que vai além da vida, o que existe fica marcado eternamente... Kafka existiu, porque de alguma forma eu o tenho dentro de mim, e quem o ler futuramente vai perpetuar o "ser Kafka". Mas o que se vê nas ruas são pessoas que não têm existência alguma, que vão viver, morrer e sumir, sem deixar vestígios, nem nem ao menos tentar deixar vestígios, sem conhecer a importância que isso vem a ter na humanidade.
O embate
Havia este homem que pensava ser algo mais do que já era. Não era presunçoso, mas sabia de muitas coisas da vida. Na verdade sabia mais do que deveria. Era ele capaz de saber o futuro em certos momentos. O porquê das coisas de certo não sabia e talvez isso o atormentasse mais do que saber demais. A verdade é que as vezes(quase sempre) achava-se sozinho com seu saber e nessas vezes não sabia também o como. Mesmo em meio das pessoas continuava sozinho sem saber o motivo nem o modo como isso lhe ocorria.
O pensamento em sua cabeça percorria o mesmo caminho inúmeras vezes, ora pulando, ora cantando, ora brigando. E pensava sobre muitas coisas ao mesmo tempo. Com extremo cuidado, podia sentir a correnteza do pensamento se entrelaçando, indo e vindo, se transformando em visão. Estranhava-lhe o fato de que o futuro fosse certo e o caminho não, isso não diminuía seu sofrimento, aliás, antes não soubesse de nada, e viveria feliz na sua ignorância.
No entanto a vida não era só pensar, e agir lhe parecia demasiado complexo mesmo para sua mente. Mais ainda para sua mente que teria de percorrer um caminho que não lhe era conhecido e o futuro sim. Sua inteligência não o prevenia do medo. Medo de quê?- se punha a pensar. E nisso era tão realizado em sua ignorância quanto aos outros supunha ser. Era impossível para ele compreender que há coisas as quais a razão não lhe podia responder, tal como o caminho certo a ser tomado. Agora já eram duas as preocupações: qual caminho tomar, e o que o levaria a tomar tal caminho, não importando a ordem das perguntas já que de nenhum modo a resposta se revelava. Todo agir lhe parecia mesquinho perante seus pensamentos que vislumbravam algo aparentemente certo e inalcançável ao mesmo tempo e se perdiam em meio a tantas perguntas. Mas não parava de agir por isso, nisso nem pensava em fazer e caso pensasse não poderia deixar de fazê-lo.
O impasse residia aí: não poderia parar jamais de pensar e muito menos de agir, já que o próprio pensar se constitui em um ato. Seu conhecimento grandioso não podia transpor essa represa. Fez-se necessário um apelo ao coração. O sentimento desde sempre lhe parecera uma faca de dois gumes, sem dúvida era o mais poderoso dos aliados e o mais traiçoeiro também. Antes de sentir pensava muito nas possíveis conseqüências e ao pensar o sentimento perdia sua força. É fato que essas duas forças se distanciam por natureza, mas em uma mente excepcionalmente racional a vitória era indubitavelmente da razão. Mas agora já não era completamente, ao suplicar ajuda ao sentimento a outra perdia a sua força, e agora ambas fracas não eram capaz de resolver-lhe o problema.
Por fim o tempo ocupou-se da resposta, e como a briga interior apenas aumentava o futuro chegou de forma surpreendente, mais cedo do que tanto pensava: uma parada cardiorrespiratória. Há quem diga que o sentimento cortou-lhe o coração, murchando-o até parar de bater; outros dizem que o pensamento lhe sufocou até a morte.